O italiano Pietro Perugino (1450-1523), retratou entre tantas cenas, uma onde a Virgem aparece para São Bernardo. Quatro anjos estão também presentes no momento. Primeiramente, a obra transmite um sentimento de calmaria, tudo parece sereno e tranquilo, até mesmo as cores que compõe o quadro e a luz representada em tons de amarelo transmitem ao espectador esse sentimento de mansidão.
O cenário, arquitetonicamente pensado pelo artista, mostra uma construção inspirada nos templos gregos e uma paisagem ao fundo. Tudo parece seguir padrões e regras. A semelhança entre os anjos e a virgem não está só no físico, mas também na serenidade e na luz que esses personagens transmitem ao espectador. Diferentemente das cores complementares do vestido vermelho da Virgem e o manto verde dos anjos, o que nos leva a perceber que os personagens usam trajes de cores vivas, exceto o de São Bernardo, um manto bege.
Olhando a obra atentamente, observamos o entalhe da escrivaninha de S. Bernardo que, ao centro, sustenta uma flor, um livro aberto, obedecendo a uma perspectiva assim como o tampo da mesa. Grandes dobras da roupa de S. Bernardo seguem quase todo o tecido da roupa, deixando evidente um corpo embaixo daquele pano. Esse volume também é perceptível na roupagem da virgem e dos anjos. Os tecidos dobram-se, modelam-se em cima de um corpo, diferentemente de algumas obras do início da Renascença, em que o tecido era exagerado, não sendo possível ao observador encontrar um corpo sob tantas dobras pesadas. E mesmo apesar de algumas dobras do manto de S. Bernardo terem seu peso, é possível perceber, por exemplo, o joelho dobrado.
(...) algumas de suas obras de maior êxito demostram que Perugino sabia obter a sensação de profundidade sem perturbar o equilíbrio do desenho, e que ele tinha aprendido a manipular o sfumato de Leonardo para evitar uma aparência dura e rígida em suas figuras. (GOMBRICH, 2009: 315)
A simetria pode ser observada na arquitetura, nas colunas de estilo grego que começam no primeiro plano do quadro, uma do lado esquerdo e outra do lado direito, formando também a moldura. Tais colunas seguem até o final do templo, dando ideia de profundidade; os arcos que formam o teto acentuam ainda mais essa perspectiva.
No centro da pintura, logo que a construção termina, com um chão num quase quadriculado em tons de bege claro e cinza, vemos uma paisagem: tons de verde se misturam na representação dos arbustos, montes e árvores com o azul da água do estreito rio. Três árvores representadas nessa paisagem deixam mais clara a ideia de longitude, de profundidade. O céu é uma mistura de rosa claro, um azul quase cinza e o amarelo de sol poente.
Embora uma obra apenas não demonstre quão grande um artista se tornou, algumas obras de Perugino podem oferecer ao espectador um mundo mais sereno e harmonioso, se comparado ao nosso.
3 comentários:
Ah que chique, ai sim rola ver um quadro com toda essa explicação...onde ele ta Carlinha?
To gostando de ver hein!
Pedro, tô treinando pra ser jornalista... será que o Le deixa?
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