sábado, 12 de abril de 2014

Uma lógica abstrata muito bem calculada: Escher!

Maurits Cornelis Escher (1898- 1972), foi mais que um artista gráfico e matemático (obrigada por tudo isso!). Ele criava imagens com efeito de ilusão de ótica em suas gravuras, verdadeiros entrelaçamentos de polígonos, em que transformava peixes em aves, hexágonos em abelhas, tudo num plano bidimensional.

Dizem que seu processo de criação começou depois de uma viagem que fez à Espanha, onde conheceu os mosaicos Mouros com seus entremeados e repetições de imagens em padrões geométricos. Com isso passou a criar lugares impossíveis, figuras distorcidas e grandes paradoxos.

Visitei o museu do artista na Holanda. “Escher no Palácio” (Escher in het Paleis) é o nome da mostra permanente no museu dedicado ao artista, em Haia. Localizado no centro histórico da cidade, o museu foi inaugurado em 2002, em um prédio do século XVIII que pertenceu a Família Real (e obedece as leis da física, diferente dos seus desenhos, rs). Com jogos de espelhos que se não confundem, causam vertigem, o lugar cria seu próprio paradoxo, com lustres de diferentes formatos que transformam a iluminação e obras que pedem um pequeno passeio para serem apreciadas. Projetores transformam as obras do artista em hologramas, com os quais podemos ver os répteis se moverem em um pequeno corredor, por exemplo.

Nos seus 3 andares, a exposição conta com as primeiras gravuras do artista, já com sua perspectiva complicada. É possível perceber toda toda a trajetória do artista. Desde esboços até obras extremamente complexas: água que corre pra cima, escadas infinitas, répteis que viram pássaros (e vice-versa). O último andar tem instalações que nos colocam dentro das obras do artista. Por alguns euros você leva pra casa uma foto da cabine de perspectiva.



Não perca
“A magia de Escher”, uma exposição que está rodando o Brasil, já é considerada a exposição mais visitada em todo o mundo,  batendo mais de 1,2 milhões de espectadores.  Passou pelo Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo, BH... está hoje em Ribeirão Preto (interior de SP). Essa mostra traz 85 obras do artista holandês incluindo instalações interativas e a cabine de perspectiva.




















segunda-feira, 31 de março de 2014

A rainha moderninha

Pablo Picasso, Joan Miró, Alexander Calder, Salvador Dalí e Ives Klein são alguns nomes do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia. Aberto ao público em 1992, recebe esse nome em homenagem a rainha Sofia.

O prédio é hoje uma ampliação do que foi no século XVIII um hospital, planejado no estilo neoclássico. Isso faz com que a visita fique ainda mais interessante: observar o contraste da arquitetura com as obras modernas e contemporâneas. Há ainda um jardim central (lindo, porém gelado em janeiro) com algumas esculturas e instalações de Picasso e Calder.

A ampliação do museu, foi feita pelo arquiteto francês Juan Nouvel, na urgência da modernização do século XXI. O Reina Sofia comporta uma vasta coleção de Arte do século XX. Em seus 4 andares, além das obras permanentes, há espaço pra mostras temporárias -- numa dessas, encontrei gravuras do Goya.

A principal obra, sem dúvida, é Guernica com seus quase 8 metros de largura por 3,5 metros de altura. O painel pintado em 1937 por Pablo Picasso, é uma triste referência ao bombardeio que a cidade que batiza a obra sofreu durante a Guerra Civil Espanhola. Sua importância vai para além do conflito espanhol e é considerado um monumento artístico contra as guerras -- não sei se é verdadeiro, mas é conhecido o diálogo entre Picasso e um oficial nazista, anos depois, ao ver Guernica. "Você que fez?", perguntou o soldado, ao que respondeu Picasso "Vocês que fizeram, eu só pintei".

Muito bacana também é ver artistas brasileiros lá fora! Dá um orgulhinho, sabe? No Reina Sofia havia Lygia Clark (Bichos, que não podiam ser tocados) e a instalação Tropicália de Hélio Oiticica (que não era tão penetrável quanto a proposta do artista, mas valeu a pena).










sexta-feira, 14 de março de 2014

De volta, depois da Europa

E lá vou eu! De novo. Mais uma vez recomeçando o blog... Depois de um ano sem dar as caras aqui e agora sem a promessa de ano novo (motivo pelo qual eu comecei o blog três anos atrás - se você é novo aqui, pode ler esse post), mas com vontade renovada para continuar a escrever.

Algumas coisas mudaram. O blog não, continua com a mesma cara. Me mudei de cidade, me casei e viajei! A melhor viagem da minha vida com a melhor companhia do mundo: o marido. O destino: Europa.

Vi um monte de obras que eu só conhecia pelos livros, ou pela tela do computador. Olhei um monte que nem sabia da existência. Reparei algumas, as que mais gosto. Foi com aquele olhar demorado, lento, pensativo que a gente devia ter com toda obra de arte (e outras coisas da vida). Outras, confesso que apenas enxerguei, sem nenhuma pausa.

Infelizmente nossa memória não dá conta de toda nossa vazão de pensamentos, ideias e conhecimento. Mas existem muitas formas da gente guardar tudo isso: fotos e relatos foram a que eu escolhi. Então, divido aqui no blog algumas lembranças que estão na minha memória recente e que agora ficarão também nessa nuvem virtual aí...

Comecemos pois por Madri: Museu Nacional do Prado (o que eu mais queria conhecer devido a minha quedinha pelo Goya).

O museu é incrível, imenso e mostra como o povo espanhol reverencia sua história. Não é para menos: o país é só a terra de Velásquez, Goya, Picasso, Miró e Dali. O Prado, com todo seu tradicionalismo não dá muito espaço a modernidade desses últimos. No museu, Velásquez e Goya são "os caras" (eu concordo plenamente).

É o mais importante museu da Espanha e está entre os museus mais importantes do mundo. Projeto arquitetônico do Neoclássico Juan Villanueva, começou a ser construído no reinado de Carlos III (que reinou de 1759 à 1788) com o intuito de ser um gabinete de Ciências Naturais, mas só foi inaugurado em 1819, no reinado de Fernando VII, tendo passado por invasões napoleônicas e depois de ter sido adaptado pelo arquiteto Antônio López Aguado, discípulo de Villanueva que se encarregou de transformá-lo em museu de Arte. Com suas linhas retas, materias sóbrios como o mármore branco e o granito e pouca ornamentação, o projeto faz parte da modernização da cultura e da economia espanhola.

Sua coleção é ampla, abrange pintura espanhola, flamenca, francesa, alemã, italiana, além de esculturas, desenhos, estamparias e artes decorativas (há no museu cerca de 7600 pinturas, 1000 esculturas, 4800 gravuras, 8200 desenhos, além de uma infinidade de objetos decorativos e documentos históricos).

Na grande maioria dos museus da Europa se pode fotografar. No Prado, não. São muitas obras e não dá pra lembrar de todas, mesmo! A gente sempre lembra do que gosta mais... Eu, quase tive um pequeno infarto ao entrar na sala das Pinturas Negras (tem um post sobre Goya aqui). E Las Majas (a desnuda e a vestida). Sobre essas obras de Goya, um trecho (adaptado) da minha monografia:

Goya contestava e subvertia padrões e regras. Não se enquadrou no movimento Neoclássico e tampouco no Romântico, ele vive entre os dois períodos. Ele é um apaixonado pela pátria como os Neoclássicos, mas exalta o seu povo e não os acontecimentos históricos.
Depois de ter prestado contas ao Tribunal do Santo Ofício sobre o retrato de uma mulher nua, La maja desnuda, obra em que o artista rompe com a tradição secular do nu feminino, oferecendo sua maja sem qualquer conotação alegórica, mitológica ou religiosa; afim de evitar mais desentendimentos com o poder da Santa Inquisição que proibia pinturas de corpos nus, Goya veste sua maja, porém guarda a nua, hoje expostas lado-a-lado no Museu Nacional do Prado. Se repararmos, é possível perceber que o rosto não se encaixa perfeitamente no corpo despido, acredita-se que isso se deve a uma reforma que Goya fez, devido a romances suspeitos do 1º ministro, Godoy.





Entramos em todas as salas do museu. Eu sinto em dizer que não há nada parecido no Brasil. É uma pena não ter fotos lá de dentro, só de fora:






Ver As meninas do Velásquez (que na verdade se chama A Família de Filipe IV), também foi sensacional, mas deixo pra falar da obra no próximo post, ok? Porque acho que esse já se estendeu um pouquinho...






sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Todo Carnaval tem seu fim?


Em plena Quarta-Feira de Cinzas,  depois da renúncia do papa ao seu pontificado e de ver a Mocidade Alegre bicampeã do samba em São Paulo, vejo uma imagem de Debret na qual ele retratou o Carnaval na época dos escravos.

Ao contrário do que muita gente pensa, o Carnaval chegou por aqui trazido pelos portugueses com o nome de Entrudo - palavra que vem do latim introitus e que designa as solenidades litúrgicas da Quaresma. Era uma festa muito diferente dos bailes de máscaras que aconteciam na Itália. Aqui no Brasil, os escravos se divertiam com muita água (molhando uns aos outros) e qualquer coisa que pintasse o rosto (polvilho, farinha, cal, café...). A elite, que ficava dentro de suas casas, usava água de cheiro para as brincadeiras entre eles e uma água não tão cheirosa pra jogar nas pessoas que passavam pelas ruas.
Com o tempo, os bailes italianos foram copiados. Como era de esperar, nessa miscigenação de raças a e culturas o Carnaval brasileiro também acabou se tornando uma grande mistura.

Jean-Baptiste Debret (1768-1848) foi integrante da Missão artística francesa, que tinha entre outros objetivos a criação de uma Academia de Belas Artes no Brasil Colônia  - onde a família Real portuguesa já estava instalada. Publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, que traz questões políticas, sociais, religiosas e culturais do então “novo” país. Foi um artista muito requisitado pela corte para retratos e momentos históricos importantes, mas é dele grande parte das imagens que temos do nosso país do século XIX.

A imagem que encontrei foi essa:




Voltando à questão do título da postagem, se o Carnaval tem fim ou não, eu não sei. Mas no ano que vem o Carnaval é em março a Copa em julho. Ou seja, em 2014, vamos ter um longo feriado...