quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Recomeçando com Neruda


A gente sabe que nem toda promessa de Ano Novo dura muito tempo. Bem, esse blog foi uma promessa de 2011 que durou algum tempo (pra quem não conhece a história, é o primeiro post desse blog, que pode ser lido aqui). O ano acabou, outro inteiro passou e eu, que me envolvi com outros trabalhos, deixei o blog um pouco (ou bastante) de lado. Enfim, agora pós-graduada e de novo sem nenhum prazo pra cumprir (artigos, resenhas, ensaios e tudo mais que eu tanto adoro) resolvo de novo investir no blog, com o mesmo propósito do início: escrever sobre arte, um olhar diferente pra ela. Vamos a mais uma promessa, agora de 2013!

Recentemente tive o prazer de conhecer um pouquinho mais de perto o poeta chileno Pablo Neruda (que nasceu com o nome de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto), um influente artista (sim, não só poeta) do século 20. Confesso que de seus poemas, eu só conhecia os mais famosos. De sua vida, quase nada.

As três casas que construiu para viver com suas mulheres viraram museus. Dessas, conheci duas. Em Santiago, o boêmio bairro Bellavista abriga La Chascona, feita para Neruda viver com a sua terceira e última esposa Matilde Urrutia. O nome da casa é o apelido que o poeta deu à sua amante e significa “descabelada” no idioma mapuche (os índios nativos do Chile). Com teto baixo, piso de madeira, passagens e escadas estreitas, foi construída para lembrar o interior de um navio. Neruda foi um grande colecionador: a casa é cheia almofadas, bonecas russas, quadros, taças, louças, garrafas, livros... La Chascona chegou a ser saqueada pela ditadura de Pinochet e a decoração não é exatamente a mesma de quando Neruda viveu lá. A maioria dos objetos foram levados por Matilde após a morte do poeta e quando a casa se tornou sede da fundação Neruda.

A casa de Isla Negra é apaixonante. O lugar fica em uma praia de El Quisco, uma cidadezinha ao sul de Valparaíso (onde fica outra casa de Neruda, La Sebastiana, a qual não visitei). A principal atração é a casa-museu, além da linda vista para o agitado oceano Pacífico que também construída para lembrar o interior de um navio. Nessa casa está o barco que Neruda ganhou dos amigos, mas nunca navegou. Neruda tinha medo do mar, mas era dele, um bom observador. Dizem que ele entrava no barco, que fica em terra firme, com os amigos e bebiam até se sentirem mareados, como se estivessem em alto mar. Na casa, mais objetos que Neruda colecionou durante sua vida: garrafas, copos, cadeiras, bancos, mais quadros, navios dentro de garrafas, conchinhas... Muitos desses objetos eram comprados ou ganhados, todos compondo um cenário encantador onde viveu, escreveu, divagou, devaneou o poeta chileno.

Dos quadros de suas casas, não pintou nenhum, pois se dizia apenas um “pensante”. Neruda produzia com a vida, pois tinha uma sensibilidade além das palavras. Ele promovia a interação de sua casa e objetos com a natureza de forma poética. Neruda foi um colecionador de objetos, de palavras, de poesias, de amigos, de mulheres, de histórias, de conhecimento.
Museu La Chascona


Museu La Chascona


Museu La Chascona


Museu La Chascona


Casa de Isla Negra


Barco na casa de Isla Negra


Casa de Isla Negra


Casa de Isla Negra (coleção de garrafas)


Casa de Isla Negra


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