sábado, 19 de janeiro de 2013

Romero Britto o novo Picasso?


Esses dias vi esse pequeno artigo (quem quiser pode ler aqui), cujo título já chama atenção. É incontestável que Picasso foi um grandioso artista. Mas, além da comparação desnecessária, dizer que Romero Britto  é novo Picasso não é um tanto exagerado?

Não estou aqui pra falar mal da pintura de Britto (1963-). Eu até gosto de alguns trabalhos, apesar de acha-los comerciais, infantis, blá, blá, blá... Mas isso também é uma questão de preferência, assim como gostar ou não de um ímã de geladeira para enfeitar a sua cozinha branca.

Pablo Picasso (1881-1973) foi inovador, criador de um movimento artístico juntamente com Geoges Braque (1882-1963), o Cubismo. Romero Britto busca um estilo, e até o tem, mas ainda é um estilo só seu e que está longe de ser considerado um movimento artístico. Com colorido vibrante e traços pretos grossos, a arte de Britto pode até ter algumas características do movimento criado por Picasso, porém com um popularismo exacerbado.

Picasso viveu em um tempo que jamais pertenceu a Britto. Guerras civis e mundiais não são tão duras para quem só pode imaginar como aconteceram. Picasso as viveu e traz isso em suas obras (e acho que não precisa dizer todo o conteúdo histórico e cultural que elas carregam). Britto é um artista pop, fez carreira nos EUA, é o queridinho das celebridades, Globais, Hollywoodianos etc. O artista pernambucano nunca foi bem visto pela crítica especializada, pela característica altamente comercial de seus quadros – nada contra se ganhar dinheiro com seu trabalho; se tem que compra, parabéns para ele (mas isso é assunto para um outro post).

Se for para fazer uma comparação, talvez Romero Britto devesse ser comparado a Andy Warhol (1928-1987), um dos líderes do movimento Pop Art, que propunha a massificação e a industrialização das artes. Ou a Roy Lichtenstein (1923-1997), que quebrou algumas barreiras diferentes da de Britto, mas que também valorizava o clichê e o comercial.

Ao contrário da grande maioria dos artistas, Britto consegue viver e não apenas sobreviver de seu trabalho. Assim como Beatriz Milhazes (e que é assunto pra um próximo post), Britto tem lista de espera de pessoas que querem ter em suas salas de estar um de seus quadros milionários. Ganhando milhões e com público garantido, eu também não estaria muito preocupada com a crítica. Mas essa não é uma postura de que pretende dizer que está rompendo alguma barreira. Também não se cria um movimento artístico só com marketing. 


Guernica - Picasso

Picasso

Retrato de Dora Maar - Picasso


Romero Britto

Romero Britto

Romero Britto




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Recomeçando com Neruda


A gente sabe que nem toda promessa de Ano Novo dura muito tempo. Bem, esse blog foi uma promessa de 2011 que durou algum tempo (pra quem não conhece a história, é o primeiro post desse blog, que pode ser lido aqui). O ano acabou, outro inteiro passou e eu, que me envolvi com outros trabalhos, deixei o blog um pouco (ou bastante) de lado. Enfim, agora pós-graduada e de novo sem nenhum prazo pra cumprir (artigos, resenhas, ensaios e tudo mais que eu tanto adoro) resolvo de novo investir no blog, com o mesmo propósito do início: escrever sobre arte, um olhar diferente pra ela. Vamos a mais uma promessa, agora de 2013!

Recentemente tive o prazer de conhecer um pouquinho mais de perto o poeta chileno Pablo Neruda (que nasceu com o nome de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto), um influente artista (sim, não só poeta) do século 20. Confesso que de seus poemas, eu só conhecia os mais famosos. De sua vida, quase nada.

As três casas que construiu para viver com suas mulheres viraram museus. Dessas, conheci duas. Em Santiago, o boêmio bairro Bellavista abriga La Chascona, feita para Neruda viver com a sua terceira e última esposa Matilde Urrutia. O nome da casa é o apelido que o poeta deu à sua amante e significa “descabelada” no idioma mapuche (os índios nativos do Chile). Com teto baixo, piso de madeira, passagens e escadas estreitas, foi construída para lembrar o interior de um navio. Neruda foi um grande colecionador: a casa é cheia almofadas, bonecas russas, quadros, taças, louças, garrafas, livros... La Chascona chegou a ser saqueada pela ditadura de Pinochet e a decoração não é exatamente a mesma de quando Neruda viveu lá. A maioria dos objetos foram levados por Matilde após a morte do poeta e quando a casa se tornou sede da fundação Neruda.

A casa de Isla Negra é apaixonante. O lugar fica em uma praia de El Quisco, uma cidadezinha ao sul de Valparaíso (onde fica outra casa de Neruda, La Sebastiana, a qual não visitei). A principal atração é a casa-museu, além da linda vista para o agitado oceano Pacífico que também construída para lembrar o interior de um navio. Nessa casa está o barco que Neruda ganhou dos amigos, mas nunca navegou. Neruda tinha medo do mar, mas era dele, um bom observador. Dizem que ele entrava no barco, que fica em terra firme, com os amigos e bebiam até se sentirem mareados, como se estivessem em alto mar. Na casa, mais objetos que Neruda colecionou durante sua vida: garrafas, copos, cadeiras, bancos, mais quadros, navios dentro de garrafas, conchinhas... Muitos desses objetos eram comprados ou ganhados, todos compondo um cenário encantador onde viveu, escreveu, divagou, devaneou o poeta chileno.

Dos quadros de suas casas, não pintou nenhum, pois se dizia apenas um “pensante”. Neruda produzia com a vida, pois tinha uma sensibilidade além das palavras. Ele promovia a interação de sua casa e objetos com a natureza de forma poética. Neruda foi um colecionador de objetos, de palavras, de poesias, de amigos, de mulheres, de histórias, de conhecimento.
Museu La Chascona


Museu La Chascona


Museu La Chascona


Museu La Chascona


Casa de Isla Negra


Barco na casa de Isla Negra


Casa de Isla Negra


Casa de Isla Negra (coleção de garrafas)


Casa de Isla Negra